terça-feira, novembro 14, 2006

Rock tipo exportação

Dinamarca, Finlândia, Nova Zelândia, Canadá e Austrália, entre outros, oferecem subsídios para bandas independentes que, em contrapartida, tornam-se embaixadores informais: representam sua terra natal para o resto do mundo. É o que escreve Jeff Leeds na matéria The New Ambassadors, publicada pelo New York Times no último domingo.

O subsídios financiam, em parte, os custos com a gravação de demos, publicidade, marketing e despesas com turnês. A banda dinamarquesa Figurines é um exemplo das centenas que aderiram ao programa de financiamento, bancado pela Agência Dinamarquesa de Exportação. O grupo recebeu 18.000 de dólares esse ano.

Duas perguntas: O que um país ganha com esse tipo de investimento? Os subsídios governamentais não comprometem a independência dos músicos?

A história dos suecos do Hives pode responder a primeira questão. Quando estourou com seu som garage-rock, em 2002, a banda não foi a única beneficiada. O sucesso do Hives também ajudou a Suécia a projetar-se internacionalmente, revestindo o país de uma aura cool. Na ocasião, a Rolling Stone estampou em sua capa "A Suécia é rock`n`roll".

Em 2004 foi a vez dos canadenses do Arcade Fire,que deslancharam graças ao dinheiro do governo canadense e à blogosfera.

Em tempos de economia globalizada e de dissolução de fronteiras, o status da propriedade intelectual mudou.Cada vez mais nações consideram a produção cultural uma commoditie preciosa, que pode ser vendida para mercados antes inacessíveis. Distribuida digitalmente, a música é cada vez mais fácil de exportar.

Aparentemente, pode parecer que esse compasso cultural que, como no cinema, projeta artistas de nações diferentes a cada ano, é aleatório. Mas, cada vez mais o título "the next big thing" pode refletir os esforços deliberados de um país.

Independência?
O rock não parece algo feito para a promoção governamental. Por isso, esse tipo de financimento é mal visto pelos roqueiros mais ortodoxos.

Muitos artistas, mesmo os que se beneficiaram desse tipo de programa, acham que o financiamento pode não pode parecer, a princípio, muito rock`n`roll. Argumentam que a ajuda governamental contraria o espírito do rock, sempre associado à contestação e rebeldia.

O Hives, álias, criticou o programa. Isso depois de ter usado o dinheiro sueco...

Ouça:
- Figurines
- Hives
- Arcade Fire

E você, o que acha da iniciativa desses países? Você acha que o patrocínio compromete a independência de um artista? Comente!


3 Comments:

At 3:40 PM, Anonymous Anônimo said...

Se o subsídio também funcionar como uma forma de pressão do governo para que o artista evite falar negativamente da política interna, com certeza sim!Agora nada impede que o governo aja com sabedoria e não se porte como se fosse um investidor,patrocinador ou anunciante.
Bruna, parabéns pela matéria!Está bem escrita e esclarece mto sobre o assunto!Adorei!

 
At 11:35 PM, Anonymous Anônimo said...

A matéria é muito boa, bem escrita e tudo o mais. Mas o mais importante é que vale a pena lê-la, há algo interessante aqui. Fico sempre com um pé atrás em tudo que é "alternativo" porque acho que eles não me oferecem alternativas de conteúdo...

Por exemplo, o post "E por falar em "the next big thing"...", que não acho que informa muita coisa (mas ele não conta porque é suíte!).

Quanto a matéria mesmo, só fico na dúvida se é realmente vantajoso investir em bandas. Qual a real importância de ser vista como "cool" pela Rolling Stone? Talvez, deva haver um pequeno impacto no turismo, no afluxo universitário, como ocorre hoje com Austrália e Nova Zelândia, mas aí não seria melhor investir no cinema (como estes dois últimos também fizeram)?

E até que ponto uma banda é mesmo um meio de divulgação da cultura de um país? Tenho a impressão de que as bandas do mundo inteiro tocam o mesmo tipo de música...

Agora, se o subsídio destruiria o rock por que esse teria natureza "rebelde" (perdeu faz 30 anos essa natureza e hoje é "poser"), tudo que ocorre é uma troca de patrocínio da gravadora para o Estado, logo, não vejo diferença.

O que vocês acham?

AHHH, de pato pra ganso:

Oy gevalt! - uh oh!
Usually an expression of worry at the realization of negative consequences or the recognition of something that is adverse.

Não faço parte do myspace - Oy gevalt! -, logo como posso ouvir as músicas? Se voce pudesse disponibilizá-las no site, ou em podcast (cadê ele, aliás?), seria bem melhor!

 
At 9:43 PM, Blogger Bruna N. said...

Ao que parece, o Marcelo quer instaurar uma polêmica.

A discussão sobre a validade da produção cultural independente dá pano pra manga, mas vou reiterar o que disse antes: é injusto dizer que esses artistas não tenham conteúdo! É claro, sempre há exceções, mas a maioria faz música (cinema, artes plásticas e etc...)de excelente qualidade com parcos recursos. Trata-se de um julgamento apresssado.

A música brasileira, por exemplo, é riquissíma, a menos que o paramêtro seja o programa da Hebe.

Mais um exemplo: o CSS recebe críticas altamente positivas no exterior - e isso inclui o sisudo The Guardian - enquanto por aqui,a opinião pública continua venerando as mesmas figuras de sempre.

Troca de patrocínio da gravadora pelo do Estado? Impossível, afinal, as bandas beneficiadas com esse tipo de subisídios são independentes.

Em tempo: é dificil precisar o impacto desse tipo de ação na vida econômica de um país...mas lembre-se:propriedade intelectual ainda gera divisas.

 

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